domingo, 2 de dezembro de 2007

Aqui jazem os morangos

Crítica 5: Morangos Silvestres
Ele se foi dia 30 de julho deste ano, aos 89 anos, deixando inúmeras obras memoráveis. Nada mais providencial que falar agora sobre uma dessas obras.

Morangos Silvestres tem algumas marcas quase sempre usadas nos filmes de Bergman. A inquietação e a angústia existenciais do homem, o amor, a história e a infância. Além disso, utiliza quase sempre os mesmos atores, como nesse caso, Bibi Anderson, no seu hall de favoritas. Os simbolismos de seus filmes também são algo muito forte, assim como sua afeição por relógios. E o amor, a memória e as questões existenciais, são tratados de forma fúnebre aqui por ele.

A história do filme é de Isak Borg, um bacteriologista que viaja de Stocolmo a Lund para receber um prêmio. Trajetória essa que é tratada como algo sem importância e decadente. Em volto a isso, existe a nora de Isak preocupada com o iminente fim de seu casamento, seu filho que não tem mais vontade de viver, sua mãe fria e sem vida e suas lembranças de um amor que não corresponde com a mulher que se casou. Uma cena bem no início é o seu sonho, onde está numa cidade estranha e acaba se vendo num caixão. Ela é emblemática e dá o cartão de visitas de Morangos, repleta de simbolismos e analogias.

Outra cena memorável é um outro sonho seu, onde é examinado por um sujeito que questiona a sua capacidade de exercer sua profissão. O diálogo neste momento é genial, com toques de surrealismos, culminando em Isak relembrando a traição de sua ex-mulher, retomando questões de amor e do passado, como sempre faz.

Bergman sempre dá aula nos seus filmes. Mas especialmente alguns deles, além da sua maestria, são precisos dramartugicamente. É o caso, por exemplo, de O sétimo selo, Persona e o próprio Morangos silvestres. Além de possuir símbolos fortes, analogias significativas, muitas vezes relacionadas à sua própria vida, a história em si é precisa e dispensa qualquer outro comentário. Uma frase dele descreve bem no que Morangos silvestres se sustenta: "Por que surge uma reação de curto-circuito numa pessoa totalmente bem adaptada e bem estabelecida?". Funciona muito bem relacionado com a vida e outros filmes do diretor e também como um filme, simplesmente. Vale como parte das inúmeras obras de Bergman, mas, acima de tudo, vale como uma obra.

Nome original: Smultronstället
Ano: 1959
Tempo: 91 min.

País de origem: Suécia
Diretor/Roteirista: Ingmar Bergman
Elenco: Victor Sjöström, Max von Sydow, Bibi Andersso
n, Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand, entre outros.